BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
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quarta-feira, 23 de julho de 2008

LUIS DE MATOS NÃO FARIA MELHOR !!!

O país não melhora chamando profissional a um ensino sem oficinas nem laboratórios nem diplomando o analfabetismo. A Comissão Europeia tornou público mais um relatório, o quinto, sobre a distância que separa os sistemas educativos europeus do cumprimento das metas para 2010, estabelecidas pela Estratégia de Lisboa, em 2000. Como Portugal não está bem na fotografia, logo o inefável Valter Lemos se apressou a desvalorizar as constatações de Ján Figel, comissário europeu da Educação, alegando que os números não traduzem a "aceleração" dos últimos tempos.

São assim, estes governantes: se os números são bons, loas a eles; se os números são maus, toca a torcê-los. Estou farto de relatórios e dos bonzos da estatística, mas socorro-me deste para denunciar a glorificação da asneira promovida pelos pigmeus da política e para clarificar que a "aceleração" de que falam é simples manipulação de números e mistificação de resultados. Diz o relatório que, em 2007, 36 por cento dos jovens portugueses abandonaram a escola sem concluir o ensino secundário.

A média de abandono para esse nível de ensino na Europa não chega a 15 por cento e o objectivo da Estratégia de Lisboa é reduzi-lo a 10. O governo tem anunciado o sucessivo crescimento do ensino profissional como o facto que mais tem contribuído para a diminuição da taxa de abandono. É uma insistência que cansa. Recordo o que aqui já escrevi e é bem conhecido por quantos estão no terreno: o país não melhora chamando profissional a um ensino de papel e lápis, sem oficinas nem laboratórios, diminuindo exigências ao nível da fraude e diplomando o analfabetismo. Estes cursos, insidiosamente anunciados como o futuro dos nossos filhos e magicamente facilitadores duma entrada na universidade, terminarão com uma desilusão do tamanho da ilusão que vendem.

Quando daqui a anos os factos me derem razão, perceber-se-á que garantir equivalência a diplomas escolares com cursos de jogadores de futebol não passa de malabarismo rasca para manter na escola todos os que antes a abandonavam. A "aceleração" dos anos 80 gerou universidades de vão de escada e um crescimento desordenado do ensino superior, que terminou nos tribunais, nas falências, no descrédito e num desemprego de doutores que, só no reinado de Sócrates, cresceu 63 por cento. Mas não impediu, duas décadas mais tarde, a glorificação de nova asneira. Quando os factos lhes caem em cima, julgam que os políticos mudam de ideias e corrigem as políticas? Não! Eles preferem mudar os factos.

Esperemos para ver reacções mais elaboradas a uma constatação do relatório, segundo o qual a iliteracia, que a Estratégia de Lisboa queria diminuir de 20 por cento até 2010, afinal... aumentou. Disse Figel, desvalorizou Valter, que um quarto dos jovens portugueses não sabe ler ou interpretar o que lê. Naturalmente que esse é o resultado da orientação do ensino para a facilidade suprema, para a despromoção do rigor e da exigência que a ministra, secretários de Estado e gurus do eduquês têm promovido.
Disse-se que "os chumbos são um mecanismo retrógrado, antigo" e que "facilitismo é chumbar".
Disse-se aos adultos que chegou a altura de terem "a escolaridade obrigatória sem frequentar a escola" e aos jovens que podem nem sequer lá pôr os pés que não reprovam por isso.
Esperava-se que tais dislates promovessem o saber? O milagre da Matemática e a farsa dos exames nacionais foram chocantes. A facilidade de muitas provas colheu a unanimidade dos observadores. Mas a ministra diz que são meras opiniões, não sustentadas por factos.

Perguntas mal formuladas não são factos.
Perguntas a tresandar a ideologia de pacotilha não são factos.
Respostas erradas, mandadas considerar como certas, não são factos.
Glossários e formulários indigentes fornecidos aos alunos, não são factos.
Grelhas paranóicas de classificação, que reduziram a zero a autonomia dos professores, não são factos.
Facto é que os 25 por cento de analfabetos funcionais, apontados pelo comissário europeu, são antes os acelerados de Valter Lemos.
Luís de Matos não faria melhor!

Santana Castilho, professor do ensino superior

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